matagal em que se perdiam os artistas brasileiros, desbravou o terreno, abriu a clareira.
E se, depois disso, indeciso e cansado, não continuou a exploração, o seu trabalho já foi enorme. Torturado por dúvidas sem fim, parou aí ... Devemos condená-lo, ou lastimá-lo por não ter podido prosseguir? Livrou-nos do excesso de palavras, e do excesso de natureza, legou-nos a maior obra já escrita por um brasileiro, e vamos culpá-lo por não ter feito mais? Por não ter, pobre doente, oprimido por terríveis heranças mórbidas, podido ser otimista e sadio, por ter escondido no humorismo a sua fraqueza? Por ter, como Joseph de Maistre, visto sem ilusões os corações dos homens honestos?
E, não bastando o que deixou feito, ainda nos deu, com o seu exemplo, uma alta lição de honestidade intelectual, de respeito à missão da Literatura, de probidade e constância no trabalho.
A sua vida, toda processada sob o signo do espírito, modesta, digna, desinteressada, completa a sua obra, faz dele, além de um valor intelectual, um precioso valor moral.
O homem e o escritor têm igualmente direito à nossa admiração, à nossa gratidão, a essa amizade póstuma que é a suprema recompensa do artista.
Quase 30 anos são passados da sua morte, e, para honra nossa, cresce cada dia o interesse comovido e respeitoso por essa figura esquiva e tímida que devemos tratar "com o carinho e a veneração