espiritual, que até então trocava a sua liberdade por uma proteção que lhe pesava como os grilhões de um calceta, a fé se aprofundou nos corações, as igrejas se multiplicaram, as dioceses cresceram, em quarenta anos, a número superior a todo o tempo do regime de união, que foi de quatro séculos. E para coroar tudo isso, a República laicista lhe deu o cardinalato, aspiração que os católicos brasileiros acariciaram debalde em todo o Império.
Toda essa liberdade, todo esse passado de paz fecunda em que a sementeira da Igreja expluiu em frutos os mais sazonados, estão, porém, comprometidos com o regresso contido na Constituição de 1934, onde depositaram o germe de futuras inquietações. O ensino religioso nas escolas públicas, e além disso a criação de ligas eleitorais que a Constituição não proíbe mas a própria Igreja, tendo em vista a observação de Leão XIII, não deveria permitir — mais cedo do que se pensa irão quebrar a esplêndida tranquilidade religiosa que desfrutamos no regime de completa separação.
Tudo nos indica a prudência de viverem inteiramente apartados os negócios do Estado e da Igreja. Os interesses, a índole das instituições, os fins a que ambos se destinam na sociedade e os meios de ação que a natureza de ambos reclama para a sua afirmação social e política, são perfeitamente antagônicos e irreconciliáveis na ordem temporal. E qualquer aproximação será a véspera de novas lutas e novos choques de interesse, dos quais só a Igreja sairá mal ferida em virtude da sua índole meramente espiritual, sem força material para se opor aos excessos do outro poder.
Os responsáveis pelos destinos do Brasil esqueceram-se depressa das afrontas recíprocas vibradas durante os anos dolorosos de cativeiro e de sangue, de que ambos