Porque não há outra explicação. O alto clero do Brasil sempre gozou da justa fama de cultura e inteligência, sendo o autor dessa pastoral o primus inter pares do episcopado nacional. Joaquim Nabuco considerava-o "intelectualmente a mais notável figura do moderno clero brasileiro", e toda a sua obra confirma essa opinião de Nabuco. A sua atuação na querela dos bispos com a maçonaria foi clara, objetiva e heroica, muito mais impressiva que a de D. Vital, e nem de longe se parece com o espírito da pastoral que acabamos de examinar.
A depressão que ela denota é tão profunda, que D. Macedo Costa, conhecendo como ninguém o caráter pacífico e ameno do povo brasileiro, não trepidou em declarar o seu receio de perseguição à Igreja nos moldes das carnificinas verificadas na França de 89, e receio oriundo do decreto de 7 de janeiro, que deve ser considerado a "lei áurea" da consciência católica do Brasil. Vejam como ele se confessa assustado, fazendo votos para "que aquelas orgias sangrentas" não se repitam aqui, com o "clero foragido, guilhotinado, afogado, metralhado; as Igrejas fechadas ou profanadas, umas feitas armazéns, outras estribarias; culto católico interrompido; crucifixos atirados ao rio Sena, e os filosofantes, de cima das pontes, a abanar com a cabeça, dizendo: Foi-se o Rei; lá se vai o Cristo! E os animais imundos vestidos de ornamentos sacerdotais, entre vaias da população parisiense, e em suma, para não dizer mais, uma mulher nua entronizada no altar-mor da catedral de Notre Dame, festejada, adorada publicamente com o título de Deusa-Razão!"
Nada disso, felizmente, sucedeu após o decreto de separação. Foi bem o contrário. Em virtude desse generoso instrumento, em que o mais favorecido foi o poder