Quando os índios, porém, souberem falar a nossa língua, e algum de nós puder entender a língua deles, já inúmeros fenômenos primitivos da sua etnografia, usos, costumes, hábitos, práticas, indústrias, característicos artísticos, religiosos, sociais, estarão deturpados pela intromissão de elementos estranhos, que os nossos fornecem continuamente.
Agora mesmo, os machados de pedra não existem mais na Serra do Norte; cada índio já possui machado de aço.
Riem-se até os Nambikuaras daquele venerável instrumento que, há dois ou três anos, era elemento fundamental da sua vida, derrubando mel e fazendo roçadas.
*
Em minha excursão à RONDÔNIA, em 1912, procurei arquivar esses fenômenos que se vão sumindo vertiginosamente.
Tentei tirar um instantâneo da situação social, antropológica e etnográfica dos índios da Serra do Norte, antes que principiasse o trabalho de alteração que nossa cultura vai nela processando.
É prova fotográfica; quero deixá-la sem retoques: aí está.
É um clichê cru. Às vezes, parece um pouco melhor porque me foi possível emoldurá-lo num quadro mais agradável. Mas os traços do contorno, as minúcias, as sombras, aqui estão tal qual os apanhei.
Um dia servirão, talvez, para recompor a história desse povo, as indicações registadas neste livro.
Nesse tempo, já serão bem conhecidos sua língua, suas lendas, sua arte e os segredos do seu fetichismo.
Quem sabe se, mais tarde, um filho da RONDÔNIA, bisneto de algum desses que deixei com saudade em