Enquanto os índios se não afeiçoarem a nós, como Nuléke ao tenente Pyreneus de Souza(3) Nota do Autor; enquanto sua boa vontade se não transformar em confiança absoluta, e eles permanecerem pouco dóceis às nossas pesquisas; enquanto não conhecermos a língua deles, e eles a nossa, suficientemente, será talvez impossível obter mais do que consignam os documentos aqui registados.
Seria rematada prova de incapacidade imaginar que se pode colher, de uma vez, todos os segredos etnográficos de um tal povo.
Os Parecis foram descobertos em 1718. Foram visitados, desde então, continuadamente, por sertanistas inteligentes, depois por naturalistas, e até por etnólogos de valor.
Há quase dois séculos, vivem em comunhão estreita com os brasileiros de Mato Grosso.
No entanto, só agora, por amizade de alguns velhos chefes influentes, pôde Rondon conseguir lendas, tradições e explicações do maior alcance.
*
Portanto, ficou ainda, na Serra do Norte, uma série de questões que o tempo irá permitindo desvendar. Será isso contribuição dos que tiverem de zelar pelas construções da Comissão Rondon. Morando lá anos a fio, poderão ir arquivando os fatos que observarem de visu, à medida que forem aparecendo, ao acaso da vida dos índios. Hoje, anota-se um; passam-se dias e meses sem que o mesmo fenômeno se reproduza. Espera-se. Na ocasião em que ressurge, continua-se a observação.
Para decifrar os enigmas de um povo selvagem é preciso o concurso de muitos observadores. E há enigmas que ficarão eternamente na sombra.