Novas cartas jesuíticas (de Nóbrega a Vieira)

de Deus, desagrada ao mesmo Deus, e que só podem os missionários, como os demais súbditos da Companhia, avisar e dar conta aos superiores maiores, do que diante de Deus julgarem o que devem fazer; mas isto com o segredo e resignação que encomendam as nossas regras, e não com publicidade e alterações, que não servem mais que de esfriar a caridade, desconsolar a missão, e impedir o serviço divino, que por meio de tantos trabalhos se veio buscar. E é necessário esta repreensão, e declaração de V. Paternidade porque os espíritos dos moços principalmente com estudos acabados, são mui orgulhosos, e cada um presume que pode governar um mundo, e há de converter outro, e isto trazem no pensamento onde mais os lisonjeia a fama e aplausos de S. Francisco Xavier, do que os inflama o desejo de suas virtudes e trabalhos.

A terceira, e última cousa que proponho, e instantissimamente peço a V. Paternidade, é que estas novas informações, de quem quer que forem, não sejam cousa para dilatar as resoluções de V. Paternidade que é sem dúvida o intento do Demônio, o qual quando não pode impedir, procura dilatar, e, entretanto, perdem-se as ocasiões, acabam-se as vidas, e o serviço de Deus perece, e até os que o procuram com grande zelo e vontade cansam e desmaiam. Faça-se, em tudo, o que for melhor, mas não se impeça o curso do que importa que se faça logo, e se não se fizer logo, não se fará nunca. Assim o espero em Deus e na paterna providência de V. Paternidade e do afeto com que V. Paternidade deseja o estabelecimento e aumento desta missão. A santa benção de V. Paternidade pedimos todos.

Rio das Almazonas, 24 de março de 661.

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