Lendo a Retirada da Laguna, de Taunay, o que se recolhe, afinal, da leitura de todas aquelas páginas, maravilhosas de simplicidade e eloquência, a impressão última que nos fica, como resíduo de tantos episódios comoventes, é que todos aqueles homens — quase dois mil no início da marcha — foram vítimas inconscientes de um erro colossal. Este erro partira daqui, dos responsáveis supremos pelo plano de campanha e nascera da ignorância por parte deles daquele meio remoto, das fronteiras de Mato Grosso, das imensas solidões campinosas que nos ligam ao Paraguai.
Os que planejaram a expedição e os que chefiaram a expedição não sabiam nada do mundo em que iam mover-se e agir. Nada, nem da Terra; nem do Clima; nem da Flora; nem da Fauna; nem do Homem. Nada das condições topográficas da imensa região a atravessar. Nada das suas particularidades. Nada dos recursos que ela poderia oferecer à coluna em marcha. Desconhecimento completo. A não ser que se chame conhecimento da terra o conhecê-la através dos compêndios de geografia...