PREFÁCIO
Meu velho amigo, Guilherme dos Santos Deveza, quando de volta de sua permanência nos Estados Unidos, onde servira na Delegacia do Tesouro Brasileiro em Nova York, manifestou-me a intenção de prosseguir nas pesquisas que havia interrompido sobre o autor do livro, Du Brésil, ou observations générales sur le commerce et les douanes de ce pays, suivies d'un tarif de droits d'entrée sur les marchandises françaises, et d'un tableau comparatif des monnaies, poids et mesures, publicado em 1828, dois anos, apenas, após a assinatura do primeiro tratado de comércio entre a França e o Brasil. Este livro, que ele encontrara na Biblioteca do Ministério da Fazenda, e de cuja raridade em breve se convencera, fora escrito pelo sobrecarga Edouard Gallès, uma espécie de comissário de bordo, como hoje diríamos, o qual andou por aqui, em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, poucos anos depois da proclamação de nossa independência.
A propósito deste livro, praticamente até então desconhecido, já Guilherme Deveza escrevera, com o minucioso exame de seu contexto, três artigos na Revista de História, de São Paulo, seguidos de mais dois em que estudava não só as vicissitudes do comércio francês no Brasil, em sua luta contra a concorrência britânica, como a importância que teve, nesse terreno, a rivalidade entre a França e a Grã-Bretanha para o reconhecimento da independência de nosso país.
E as pesquisas realizadas por Guilherme Deveza, que não deixei de incentivar, não obstante suas dificuldades, levaram-no, como se verá, ao encontro de curiosa figura, misto de aventureiro e de caixeiro-viajante, de singular perspicácia e apreciável instrução, a quem não é demais, realmente, pela repercussão de seu livro e pelo interesse que dedicou ao nosso país, dar-se o título de precursor do comércio francês no Brasil.
Não há dúvida de que o Brasil, de que foi representante consular em Bordéus, teve larga parte na vida de Edouard Gallès, a ponto de este considerá-lo como sua segunda pátria. E