INTRODUÇÃO
Não é preciso ser exclusivista como Catão, e considerar a agricultura "a única profissão que não é odiosa a ninguém; a que menos expõe os homens aos maus pensamentos". Nem rigorista como Cícero, que, para mais concitar os cidadãos romanos à prática da agricultura, anatematizava as "profissões mercenárias" — isto é, as liberais. Para sublinhar o valor das atividades agrícolas, basta ficar em Adam Smith: "A população de um país não depende do número de homens que pode vestir e conter, mas dos que pode nutrir". Ou nisto: "A agricultura é a única indústria verdadeiramente produtora, indispensável à vida, única realmente moral e moralizadora". As outras destroem. "Os metais, o petróleo, o carvão, que tiramos das minas, não foram produzidos por nós. Não foram plantados por nós os bosques que cortamos. Não se reproduzirão, como não se reproduzirão os animais por nós caçados". Mas se reproduzirão as fibras, tecidas para nosso indumento; os comestíveis, servidos à nossa mesa; os tabacos, queimados em nossos cigarros; tudo quanto a indústria transforma, e o comércio mercadeja. Reproduzir-se-á tudo isso, graças à agricultura, a primeira das indústrias, da qual as outras dependem. "É ela que permite às outras viverem, e as mantém na sua independência. É uma indústria por sua própria natureza, porquanto, como a indústria, tem por objeto a transformação das matérias-primas, e em realidade a terra não passa de grande usina fabricadora de produtos". Como a definiu Passy, ela é "o esforço do homem por tirar do solo, ou melhor, da natureza, os elementos necessários à vida".
Esforço, que em todas as épocas subjugou o homem, até nas fases caracterizadas pelas guerras de conquista. Entre as providências, que se impunham os estadistas romanos, depois de haver conquistado novas terras, incluía-se a introdução da agricultura, em seu aperfeiçoamento. Vêm daí os melhores métodos, por eles praticados e difundidos, para o cultivo dos olivais, para a restituição, ao solo, dos elementos fertilizantes, para a aplicação dos adubos verdes, etc. Data daí a trilhadora mecânica, "tribula genus vehiculi, omni parte dentatum unde teruntur frumenta quo maxime in Africa utuntur", segundo refere Virgílio. Bem como o arado mecânico de rodas,