– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).

ainda predominam absolutamente, principalmente os do vestuário e da mesa: ainda se bebe muito vinho e aguardente do Reino na dieta cotidiana, come-se muito peixe salgado, já vão aparecendo o pão europeu, a "letria", as "maças", os presuntos e os paios - tudo isso bem adubado com o generoso azeite doce português, o vinagre e, finalmente, o regalo da fruta seca de além-mar, o figo ou a passa. E, para os possíveis excessos das mesas mais opíparas, de par com as agressões do clima tropical, os remédios "de botica", em muito boa quantidade. Como as fábricas do ouro estão agonizando, caiu bastante a compra de escravos: nem dois mil, quando, nos velhos tempos da prosperidade, vinham três e mais vezes mais. A terra áspera e primitiva exige armas e ferramentas diversas: chegam armas de fogo, ferro novo, e até ferro velho, cobre, chumbo, para os bronzes dos sinos é verdade (que ali se fundem), mas quase como o símbolo da cultura mineira do tempo, que tem tanta coisa de bronze. Agora que o ouro morreu, até o mesquinho asém [sic] aparece em Minas, para continuar a iludir os impenitentes, que não querem aceitar a verdade, dura demais. Mas, a vida tem de continuar e as tropas haverão de encarrear seu lerdo e seguro passo, subindo as montanhas: bestas e cavalos novos continuarão, pois, sendo comprados na feira de Sorocaba, porque as criações da terra ainda não são bastantes; aquele "enxofar" importado é droga para eles. Uma nota quase religiosa, na lista das importações: a cera "em páo", isto é, em bruto, para a feitura de velas, e as próprias velas europeias, melhores que as da terra, cheias de untos e sebos. E, finalmente, as importações daquelas espadas, que, por não terem pago direitos das entradas, deveriam ser das forças do Exército: parece-nos também material decorativo, dos incontáveis oficiais das ordenanças ou milícias honorárias de Minas.

As importações mineiras de 1818-1819 foram fracas, perfazendo as compras o total de 183:422$005 réis. Esse pobre dinheiro denunciava o quase nenhum poder aquisitivo dos povos da Capitania, cada vez mais avezados às práticas da "trama", à troca das utilidades, à economia doméstica, natural, própria das sociedades mais primitivas. Ou mais decadentes,(176) Nota do Autor como é o caso daquela terra e daquela gente.

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