Apresentação
Este trabalho é uma coleta de pesquisas e notas sobre a história da cultura da decadência de Minas Gerais, no século XVIII.
Compõe-se de cinco capítulos, ou melhor, de cinco quadros de estudo sobre o século setecentista mineiro. O primeiro deles é um levantamento das gentes mineiras primitivas, aquelas populações aluvionais que se derramaram pelas montanhas, vales e planuras das "Minas do Ouro", a partir dos últimos anos da centúria seiscentista, chamadas que foram pelos "manifestos" dos bandeirantes descobridores do metal amarelo, e ali se deixaram ficar. Esse levantamento foca primeiro os aventureiros sem nome e sem lei que vão arribando às catas auríferas; depois estuda a incrível miscigenação de raças que entre eles se estabelece, talvez a maior de quantas tem havido, em dado momento histórico e em dado limite geográfico; e, finalmente, descreve a consolidação socioeconômica dessas gentes mineradoras e agrícolas.
O segundo quadro estabelece o estudo da Igreja Mineira, a religião do homem da mineração, esse homem dilacerado pelas paixões mais devastadoras, que vive o drama antitético das esperanças desvairadas a par dos desalentos mais profundos, situação a que pretende dar freio e refrigério a fé, a religião. A Igreja Mineira é estudada através de seu peculiar aspecto de religião popular, acudindo às necessidades espirituais e morais dos povos; através do seu clero, primeiro primitivo e ávido como os próprios aventureiros, com seus "visitadores", seus capelães bandeirantes, seus frades giróvagos e "levantados" da Guerra dos Emboabas, e seus bispos visitantes do Rio de Janeiro, e, depois, o clero da terra, menina dos olhos de D. Frei Manuel da Cruz, o heroi do Áureo Trono Episcopal, mas que se degenera nos dias da Sede Vacante, na ominosa "época dos procuradores", só se recuperando nos dias melhores de D. Frei Domingos da Encarnação Pontevel e D. Frei Cipriano de São José, os tempos do fastígio iluminista da Sé marianense; através, enfim, das elites mineiras trabalhadas pela Igreja para a sua missão na cidade dos homens, aquela bruta e tíbia cidade dos homens das Minas setecentistas.