épocas e diferentes sistemas da circulação, permaneceram, lado a lado, na estrutura urbana do bairro. DION completa suas observações sobre esse fato curioso, lembrando-nos que sua explicação histórica reside numa questão muito simples da evolução do sistema de transportes no Brasil: entre nós, a passagem do "ciclo do muar" para o ciclo da circulação moderna se fez à custa de um salto gigantesco, sem fases de transição. Passamos diretamente dos caminhos tropeiros para a era das rodovias, sem aquela série intermediária importante, que correspondia aos diversos tipos de estradas carroçáveis, tão conhecidas na história dos transportes na Europa Ocidental. Em outras palavras, tendo passado diretamente do "ciclo do muar" para o "ciclo do automóvel", sem a transição normal do "ciclo das diligências", assistimos a uma interferência radical na estrutura dos caminhos, fato que adquire maior contraste no interior da zona urbana metropolitana das cidades de crescimento recente muito rápido. Daí encontrarmos, em pleno interior da Metrópole paulistana, heranças dessa excepcional interferência na estrutura dos caminhos e estradas. Tanto na Penha como na Casa Verde e em Santana existem bons exemplos desse fato, inscritos quase que definitivamente na paisagem urbana, perfeitamente à mostra para os que quiserem ler sua história.
Tecendo comentários em torno do livro de MALRAUX, Tentação do Ocidente, SÉRGIO MILLIET (in Diário Crítico, Liv. Martins, 1947, p. 23) diz: "Lembro-me de uma frase de Le Corbusier apontando, no que sobrara do passado, os males da urbanização moderna. O caminho de burros é que impediria as cidades de se tornarem harmoniosas. Era preciso acabar com os caminhos de burros e abrir grandes avenidas margeadas de arranha-céus. Mas o caminho de burros, a rua sinuosa que acompanha a topografia natural, é o caminho do homem sábio que se adapta à natureza em vez de gastar suas forças num combate inglório"... Na presente oportunidade lembramos que as referências um tanto negativas que geógrafos e urbanistas às vezes fazem aos caminhos de muares em relação à estrutura de certas aglomerações urbanas brasileiras, liga-se a um fato inteiramente oposto àquele referido por SÉRGIO MILLIET. Na verdade, algumas ladeiras íngremes cuja rampa poderia servir para animais de carga, são absolutamente inviáveis para a tração a motor comum.