o café presidira ao primeiro ímpeto de seu crescimento, criando as bases humanas para o surto industrial. Em poucas palavras: a história de São Paulo, nos últimos cem anos, acha-se intimamente ligada à expansão de um arbusto.

Hoje, decorrido mais de um século do início da epopeia cafeeira, a capital paulista se apresenta como um centro econômico autônomo, cujos fundamentos - o comércio e a indústria - se acham aparentemente alheios ao destino da rubiácea. São Paulo não é mais, exclusivamente, como realmente o foi, a "capital dos fazendeiros" ou a "capital do café". A esta função, que ainda hoje exerce sem competidor, acrescentou a de mais importante centro industrial da América Latina. Mas a "cidade das chaminés" - como a ela já se referiram os filhos de outras terras - não pode olvidar o papel representado pelo café; não apenas por um dever de gratidão, mas por uma necessidade reclamada pelos que se tem dedicado à tarefa de explicar a formação da nova cidade, superimposta à velha metrópole do café. Nesse passado, aliás pouco remoto, fincam-se as raízes da cidade atual, rejuvenescida pela vocação industrial.

Cidade rejuvenescida, cidade superimposta. Quem conheceu São Paulo por volta de 1920, vendo-a hoje, compreenderá o sentido dessas expressões. Nova paisagem urbana, novos e angustiosos problemas, a própria vida da cidade transformada em seus fundamentos(1) Nota do Autor.

Entre as modificações registradas na estrutura funcional da cidade de São Paulo, a mais recente é devida à função industrial. Ela não sucedeu, mas ajustou-se às funções anteriores. De fato, não houve, na evolução da metrópole paulista, uma sucessão de funções e, sim, um progressivo enriquecimento de sua estrutura funcional. O núcleo de catequese do quinhentismo adquiriu, em curto lapso de tempo, a complexidade que caracteriza as grandes metrópoles modernas. Se, na presente obra, foi dada maior ênfase à sua função industrial, é porque dela resultou uma nova paisagem urbana, caracterizada pelo número avultado de fábricas e pela importante população operária, além de constituir uma imposição do método analítico