A Fazenda do Anastácio estendia-se para Oeste, próximo ao Tietê e legou seu nome ao atual Bairro ou Vila Anastácio, nome que recorda o coronel Anastácio de Freitas Trancoso, seu proprietário até princípios do século XIX e que ali manteve cultura de cereais, café e chá. Entretanto, é o Sitio do Emboaçava que mais direto interesse apresenta para o nosso caso, pois correspondia à maior parte do núcleo principal da Lapa de hoje.
Ao que parece, durante quase todo o século XIX, a região vegetou em modesta obscuridade, não passando de simples área rural e não apresentando nada que despertasse o interesse dos que por ali transitavam. Pelo menos não mereceu nenhuma referência de SAINT-HILAIRE, por exemplo (tão minucioso sempre em suas descrições), que a atravessou no primeiro quartel do século XIX e silencia completamente sabre o trecho que nos interessa, limitando-se a mencionar a "Fazenda da Água Branca", conforme já foi registrado noutra parte do presente capítulo.
Tal situação perdurou até à última década do século passado. Foi somente por volta de 1890 que se iniciou o loteamento de alguns trechos seus: a Vila Romana, em 1888; a Vila Sofia, que corresponde ao núcleo principal de nossos dias; e a Vila Leopoldina, as duas últimas em 1890. Só então começou, propriamente, a ter existência a Lapa, embora não passasse de modestíssimo subúrbio da capital paulista.
Uma planta rústica, datada de 1898 e que figura no Arquivo Aguirra, dá-nos perfeita ideia do que seria a Lapa ao findar o século passado a Capela da Lapa, uma "venda", cinco ou seis casas que se alinhavam ao longo da chamada "Estrada de Jundiaí", atual Rua do Anastácio. Nada mais. As "vilas" atrás mencionadas não passariam, certamente, de meros loteamentos.
Os primeiros anos do século atual assistiram ao rápido desenvolvimento do pequenino aglomerado suburbano. Mas o seu crescimento fez-se à margem do da capital, embora dele fosse um reflexo. A prova disso pode ser obtida consultando-se as numerosas plantas da cidade de São Paulo, publicadas nos primeiros 20 anos do século, nas quais se verifica que, até 1918, os limites da zona urbana no rumo de Oeste se encontravam no bairro das Perdizes. Nessa época, a atual Avenida Conde Francisco Matarazzo representava uma espécie de "cordão umbilical", unindo a Lapa à metrópole paulista.