O Quilombo dos Palmares

de Melo encontrou, na Carlota, apenas seis negros entre as 54 presas que ali fez, pois 27 eram índios e índias e 21 eram caborés, mestiços de negros com as índias cabixês das vizinhanças. E, como veremos, os negros chegaram a estabelecer comércio regular com os brancos das vilas próximas, trocando produtos agrícolas por artigos manufaturados.

Nem mesmo dispunham os quilombos de defesas militares. O que os defendia era a hostilidade da floresta, que os tornava - como certa vez confessou o governador Fernão Coutinho - "mais fortificados por natureza do que pudera ser por arte". Somente nos Palmares, e assim mesmo num período bem adiantado da sua história, encontraram-se fortificações regulares, feitas pela mão do homem. Um documento da guerra palmarina informava que os negros não tinham "firmeza" nos seus mocambos, passando de um para outro, de acordo com a necessidade. Esta mobilidade completava a proteção que a natureza lhes oferecia.

Assim, o motivo das entradas parece estar mais na conquista de novas terras do que mesmo na recaptura de escravos e na redução dos quilombos. A destruição de quilombos menores, como os do Rio Vermelho e do Urubu, na Bahia, o de Manuel Congo, em Pati do Alferes, ou, na fase final da balaiada, o do Cumbe, no Maranhão, talvez tivesse tido esses objetivos formais. Parece certo, porém, que o tipo de agricultura e as atividades de caça e pesca desenvolvidos pelos negros nos quilombos maiores, mais populosos e mais permanentes, espicaçavam a cobiça dos moradores vizinhos, desejosos de aumentar as suas terras mais um pouco, e dos sertanistas, ambiciosos de riqueza e poder. Era voz corrente que as terras dos Palmares eram as melhores de toda a capitania de Pernambuco - e a guerra de palavras pela sua posse não foi menor, nem mais suave, do que a guerra contra o Zumbi. O quilombo do rio das Mortes ficava exatamente no caminho

O Quilombo dos Palmares - Página 19 - Thumb Visualização
Formato
Texto