dos abastecimentos para as lavras de Minas Gerais, o que pode dar uma ideia do valor das suas terras e da riqueza econômica que representavam, e é nessa circunstância que se encontra a razão da crueldade de Bartolomeu Bueno do Prado, que de volta a Vila Rica trouxe 3.900 pares de orelhas de quilombolas. E, como já vimos, os objetivos explícitos da incursão contra os ajuntamentos da Carlota eram os de "se destruírem vários quilombos, e buscar alguns lugares em que houvesse ouro".
A iniciativa da luta jamais partiu dos refúgios de negros.
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Os quilombos situavam-se geralmente em zonas férteis, próprias para o cultivo de muitas espécies vegetais e ricas em animais de caça e pesca. A utilização da terra, ao que tudo indica, tinha limites definidos, podendo-se afirmar que, embora a propriedade fosse comum, a regra era a pequena propriedade em torno dos vários mocambos ou, como escreveu Duvitiliano Ramos, a "posse útil" da terra. Era o mesmo sistema da África. Entre os nagôs como entre os bantos, pelo que ensinam C. Dary Forde e J. W. Page, a terra pertence aos habitantes da aldeia e só temporariamente o indivíduo detém a posse da terra que cultivou. Os quilombolas, individualmente, tinham apenas a extensão de terra que podiam, na realidade, cultivar. Os holandeses, quando invadiram os Palmares, incendiaram, num só dia, mais de 60 casas em roças desertadas pelos negros. Como as plantações ficavam em volta dos mocambos, pequenas aldeias arruadas à maneira africana, parece provável que as casas nelas existentes servissem apenas de