O Quilombo dos Palmares

tabernas em que se vendiam aguardente e vinho de mel, "aonde vinham os negros do Mocambo contratar e levar de dentro da Cidade muitos escravos". Quando as forças que haviam atacado a Carlota partiram para o quilombo próximo de Pindaituba, levaram consigo dois escravos como guias, "por viverem nele quando foram presos por seus senhores nesta Vila [Bela] onde vinham, não só a comprar o que necessitavam, mas a convidar para a fuga e para o seu quilombo outros [escravos] alheios". Esse recrutamento estendia-se também às mulheres e, sem dúvida, às crias. Domingos Jorge Velho escrevia que as negras palmarinas tinham sido levadas à força para o quilombo, mas o apreciável número de mulheres encontradas nos quilombos chega para destruir essa hipótese. Quando o quilombo estava muito distante das povoações dos brancos, e em terreno de acesso difícil, como a Carlota, a mais de 30 léguas de Vila Bela, os negros valiam-se das mulheres mais à mão - no caso, as índias cabixês.

Esta população miúda aos poucos deu nascimento a uma oligarquia, constituída pelos chefes de mocambo, a quem cabia, como na África, a atribuição de dispor das terras comuns. A pequena duração dos quilombos em geral não permitiu que o processo de institucionalização chegasse ao seu termo lógico, exceto nos Palmares. De qualquer modo, o poder civil cabia àqueles que, como disse Nina Rodrigues, davam provas "de maior valor ou astúcia", "de maior prestígio e felicidade na guerra ou no mando", embora a idade e o parentesco também conferissem certos privilégios. Zumbi, Malunguinho, Manuel Congo e Cosme eram, sem dúvida, os chefes "mais hábeis ou mais sagazes", mas nos Palmares a mãe, um irmão e dois sobrinhos do rei eram chefes de mocambo e os seis negros encontrados na Carlota em 1795, remanescentes da primeira expedição, eram "os regentes, padres, médicos, pais e avós do pequeno povo que formava o atual quilombo...".

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