ideias destinadas a dirigir a sociedade, passa a existência sob a influência de duas correntes de estímulos, distintas e independentes; a dos conceitos e ideais teóricos e a dos fatos da época: agitações, conflitos partidários, lutas locais, toda a massa pululante de personalismos, de ambições, de gestos e discursos ociosos e estéreis, trabalho desorientado e sem objetivo, que domina, entretanto, as atenções, como se fosse a expressão real da nossa vida.
A mescla, que não conjunto, e, ainda menos, síntese, das ideias e dos móveis da nossa vida pública, apresenta-se, assim, na formação das opiniões e dos atos — como o baralhamento das perguntas e das respostas, no jogo popular dos disparates — tecendo e confundindo, desencontradamente, duas correntes artificiais, estranhas à vida positiva da sociedade: de um lado, a ideação, literária, ou pelo menos, teórica, dos intelectuais de todas as cores, jurídica e formalística, dos políticos, matizando a atmosfera da nossa mentalidade com o íris das mais vistosas teorias; do outro, a força dos interesses, movendo as pessoas, distribuindo-as, separando-as, reunindo-as, sob os galhardetes dos mais brilhantes programas, mas agindo todas na mais desafinada, furiosa, atroadora e desconcertante balbúrdia.