tempos, em que a luta crua era lei da vida, nas angústias dos êxodos e nos flagícios da dor física — conseguiu comprar, a peso de ouro, nos balcões das casas de crédito, o direito à vida, à liberdade e à segurança da consciência e do lar. O outro, o Deus Cristão, perdeu, transportado para Roma, na ampla atmosfera que conquistou e ao carinho de almas de todas as raças — a feição nacional, para tornar-se o Deus do amor, no coração dos apóstolos do cristianismo, e o Deus do Império espiritual, no cérebro de seus políticos.
Mas Deus, ser ideal, absoluto e infinito, essência e fim das cousas, foi um dos primeiros sonhos especulativos da alma humana, ao se lhe despontar a consciência do próprio ser, como parcela de um universo enfeixado no âmbito do horizonte, e de uma sociedade confinada na vida gregária do bando.
Deus era, mais que tudo, para os primeiros homens — seres ainda em transmutação, das formas grosseiras do instinto para as formas incipientes da consciência, entre a meia-noite da última animalidade e o primeiro minuto da vida racional —, o Pai eterno da estirpe, seu criador, seu protetor, seu chefe e seu guia. O ser superior e eterno, entidade universal e ubíqua, simbolizada no sol que trazia a luz, no animal, ou na árvore,