declarar D. João insano, para transferir a Coroa a D. Miguel. O zelo, a paixão e a determinação obsedante que punha em suas tramas eram de natureza a convulsionar toda a existência do já infeliz país e, se a situação interna era de suma gravidade, com a ameaça de uma nova surtida de Dona Carlota Joaquina ninguém poderia, de fato, sentir-se seguro no reino.
Intrigas, conspirações, ódios e suspeitas, eis o ambiente que assinalou o retorno do absolutismo a Portugal. Por outro lado, o comércio entrara em colapso, o Tesouro estava exausto, todas as atividades, enfim, restringiram ou se anularam com o terrível choque resultante da perda do Brasil. Dentro desse cenário de confusão é que Palmela tentou reerguer o prestígio nacional, abalado e comprometido em seus fundamentos estruturais. Compreendeu, desde logo, que sem o Brasil, Portugal estaria condenado à ruína e toda a sua preocupação concentrou-se, daí por diante, em encontrar uma solução para o complexo e delicado problema brasileiro.
A derrubada das Cortes havia dado origem a duas interpretações políticas, referentes ao futuro do Brasil e às suas ligações com a mãe-pátria que, embora, na época, tivessem sido esposadas por homens eminentes, nunca deixaram de se revelar nitidamente contrárias à realidade dos fatos. Naquele momento, acreditava-se em Portugal que a mudança operada no cenário político do reino iria proporcionar a D. João VI as condições de prestígio necessárias para a conservação da colônia rebelde unida à monarquia, pois o movimento que levara os brasileiros à independência não passara da agravação de uma crise, entre o Príncipe Regente e as Cortes, que haviam sido dissolvidas. A extinção da causa geradora do atrito, segundo a opinião dos círculos monárquicos, iria permitir a reposição do problema nas suas antigas bases, com a solução facilitada pelo retorno, dentro em