George Canning e o Brasil 2º v.

breve, a um clima de entendimento e de solidariedade entre portugueses e brasileiros peculiar às ligações mantidas entre os membros de uma mesma família.

Julgou-se, por outro lado, no Brasil, que o reinvestimento de D. João VI nos seus poderes absolutos, constituindo esse fato uma vitória do legitimismo sobre a revolução, iria fortalecer a posição de Portugal junto à Santa Aliança e, como consequência, deveria aumentar as possibilidades de uma intervenção armada reinol para tornar sem efeito a independência.

Essas interpretações, absurdas como parecem hoje, não deixaram de ter, contudo, sua justificativa, na época, quando completo era o desconhecimento, tanto em Portugal, como no Brasil, não somente das reais condições que prevaleciam respectivamente em ambos os países, como, também, das dificuldades, sob as quais estavam se processando os acontecimentos na diplomacia europeia.

Portugal, acreditando que a independência brasileira fora, apenas, um desenvolvimento dos atritos ocorridos entre o Príncipe Regente e as Cortes, revelava ignorar o caráter nacional que tivera o movimento, não tomara conhecimento da amplitude e da profundidade de um generoso anseio de todo um povo, cuja prosperidade econômica, senso político, organização social, densidade demográfica e exercício intensivo do comércio haviam proporcionado a maturidade política, compatível com aquela aspiração. A independência não fora, pois, nem obra de D. Pedro, nem um resultado da sua Regência, mas impusera-se como uma evolução lógica de uma consciência coletiva amadurecida, despertada por um líder experimentado e hábil que soubera capitalizar, em favor da causa, todos os despautérios e insultos das Cortes.

O Brasil, temendo um fortalecimento da posição do governo de Lisboa junto à Santa Aliança, mostrava desconhecer, por seu lado, as dissensões que lavravam no

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