I - EM BUSCA DO ELDORADO
Fora pelo Natal do ano da graça de 1539.
A bandeira descomunal de Gonzalo Pizarro - irmão de D. Francisco, que era Gobernador, Capitan-General y Adelantado del Peru - pusera-se em marcha, alta hora da noite.
Cento e oitenta fidalgos, cavalgando sólidas alimárias, cercados de mais duzentos peões armados de arcabuzes. Adiante, misturados às lhamas que conduzem os mantimentos, aos milhares de ovelhas e de porcos para reforçar o rancho da expedição, às centenas de cães de caça que farejam o chão da floresta, vão quatro mil índios tirados às prisões de Quito para guiar os brancos.(1) Nota do Autor
Partem em busca do Eldorado. E do País da canela.
Caminham impávidos, enxotando com o simples rumor do seu tropel os poderosos incas, que fogem espavoridos diante daqueles fantasmagóricos animais de quatro patas, maiores do que os próprios brancos que os cavalgam. Uns bichos estranhos como jamais se lhes haviam deparado.
Nada os detém na colossal investida. Nem o apavorante estrondo de um terremoto que faz sacudir a terra minada de vulcões. Nem o aguaceiro torrencial que os persegue dias a fio após transporem os Andes e guarda a fúria ameaçadora de um novo dilúvio.