Antes, porém, de subir a la mar, mais de um ano antes, aos 22 de junho de 1541, uma quase assombração os aguarda próximo à foz do Nhamundá.
Mal chegam a desembarcar, para se proverem de algo com que amansar a fome de longos dias, e logo se arroja sobre eles um feroz bando guerreiro, cujas flechas se despejam em tal abundância que, em poucos minutos, "parecian nuestros bergantines puerco espino".
Tremenda peleja. Em meio à luta violentíssima contra essas amazonas, que fazem "tanta guerra como diez indios", eles ainda conseguem ver que "estas mujeres son muy blancas y altas y tienen muy largo el cabello y entranzado y revuelto a la cabeza". E em plena fúria da refrega, já privado do olho que uma das flechas lhe arrancou, Frei Gaspar encontra um minuto para descobrir que as hercúleas guerreiras, "que son muy membrudas y andan desnudas", trazem "tapadas sus verguenzas".
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Ouvindo a rocambolesca Relación, escrita por Frei Gaspar para imortalizar o feito do descobridor, Sua Majestade Católica, no Trono de Valladolid, há de lembrar-se de seu augusto avô Fernando, o soberano sob cujo reinado se fizera a partilha do mundo entre os dois poderes que o disputavam. Porque todo o cenário de tão fantástica história pertenceria a Portugal se, ao riscar salomonicamente o mapa das possessões luso-espanholas de além-mar, o Papa Alexandre VI não houvesse determinado pertencer à Espanha tudo o que existisse para oeste de um meridiano, por ele mesmo traçado, a cem léguas dos Açores e do Cabo Verde.(3) Nota do Autor Se bem que, logo no ano seguinte,