Plácido de Castro, um caudilho contra o imperialismo

AS RAZÕES DE UM SILÊNCIO

A Bolívia e o Brasil jamais se empenharam em uma guerra de fato. Houve, é certo, ao longo do extenso trecho de sua fronteira comum, uma luta armada que se dilatou por anos e resultou em verdadeira hecatombe. No recesso da floresta equatorial que recobre os confins ocidentais da planície amazônica, as contingências inexoráveis do determinismo histórico fizeram deflagrar uma competição guerreira. E esta, reduzida em começo a simples escaramuças travadas esparsamente na mata, avolumou-se com o tempo, até culminar numa tragédia em que se despedaçaram milhares de vidas inocentes.

Foi o caso que as insidiosas forças do mal - que só triunfam em seus desígnios minando os alicerces da amizade que liga logicamente as nações irmãs - pretenderam cavar um abismo de ódio entre os dois Estados sul-americanos. E instilaram na alma do valoroso povo andino a ideia de que a pátria brasileira lhe lançara um cartel de desafio, movida pelo torpe desejo de conquistar-lhe um pedaço de território. Quando, na realidade, muito outras eram as causas profundas, geradoras do sangrento entrechoque que atirou contra os soldados da Bolívia o patriotismo incandescente dos guerrilheiros acreanos.

Desse corpo a corpo que empolgou as duas facções de homens americanos, os defensores da soberania boliviana saíram materialmente vencidos. Materialmente, apenas. Porque, superado o drama da derrota, a consciência nacional pode hoje capacitar-se de que a vitória dos patriotas acreanos também foi a sua vitória. O que a rígida têmpera dos soldados da Bolívia não conseguiu realizar, realizou-o a sua derrota. Com ela, paradoxalmente, pagaram o preço da segurança de sua liberdade, como nação e como povo. Não houvessem os legionários da Inconfidência Acreana esmagado militarmente os seus bravos adversários, e a Bolívia teria soçobrado na voragem que a própria

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