vitória lhe acarretaria. Pois o sindicato de capitalistas internacionais - homens sem pátria e sem alma, embora quisessem assaltar o Acre em nome de suas pátrias poderosas e da civilização - teria anulado em pouco a independência da nacionalidade boliviana, tão cedo quanto a balança da peleja lhes houvesse concedido a palma do triunfo. Ao passo que a vitória daqueles que a venceram, de fato, na insurreição de 1902, marcou para ambas as partes contendoras um destino engrandecedor. Defendendo, de um ponto de vista imediato, o solo que julgavam haver tornado seu pela posse - a posse coroadora do trabalho que fecunda e legitima direitos - os acreanos vencedores defenderam, também, num plano de inconsciente antecipação, a futura segurança da soberania nacional boliviana. Abroquelaram nas fortalezas da sua vitória, silenciosamente e sem o saber, um bem muito maior do que aquele que pudera ter sido alcançado pelos exércitos bolivianos, se estes houvessem chegado a destroçar os conjurados pelo ideal de salvar o Acre - e com ele, a segurança da América do Sul.
Plácido de Castro foi a alma, o cérebro, o braço executor dessa inestimável libertação. E é a história de semelhante epopeia, que se busca reproduzir aqui, através da biografia do caudilho que a encabeçou. No que toca ao sentido íntimo de tão marcante existência, não foi tarefa simples levar a cabo a sua reconstituição, desde que o autor se impôs o propósito de renunciar a uma liberdade de métodos que o levaria, fatalmente, a romancear os trechos da vida em estudo, cuja realidade não se deixasse totalmente devassar. Por isso mesmo, imaginada embora há muitos anos, sua execução foi retardada até 1948, pela exiguidade de material capaz de espelhar fielmente tão discutida personalidade. Não que faltassem dados sobre a campanha que serviu para a revelar em toda a plenitude. Ao contrário, já são hoje abundantes os trabalhos de caráter propriamente historiográfico, conforme se verifica nas anotações bibliográficas que vão apensas a este livro. Mas porque, na parte especificamente relacionada com a personalidade Plácido de Castro, os elementos são demasiado escassos. E os que existem, e foram estudados, impuseram um meticuloso esforço de depuração em vista da índole passional que presidiu à sua elaboração, sejam os que exaltam, sejam os que pretendem anular a grandeza de sua figura.
Foi mister, por outro lado, um imparcial trabalho de análise e comparação, para extrair a verdade - ou o que mais