Para reconstituir toda essa vida, que durou mais de 70 anos, tivemos à nossa disposição farto material: cartas de família e cartas políticas, estas pouco numerosas, mas em geral de importância histórica, "confidenciais" ou "reservadas" algumas delas, inéditas todas; documentos parlamentares e publicações diversas; reminiscências de parentes, a par de nossas próprias recordações; e, notadamente, recortes de jornais, cujas datas remontam à mocidade do biografado e chegam até nossos dias, constituindo um conjunto de mais de dez volumes - livros ou cadernos de toda espécie, que os preservaram por longas décadas e que somente agora vieram a ser manipulados, selecionados, analisados e parcialmente aproveitados.
O leitor tem o direito de censurar o autor deste livro pelo excesso de citações. Mas talvez possa perdoá-lo, se lhe for lembrado que muito delicada é a situação de um filho que se propõe a escrever sobre a vida do próprio pai.
Naturalmente, outros dedicaram-se a igual tarefa. Mas a empresa não é nada fácil, quando se procura escrever com a possível isenção de ânimo, sem se deixar levar por qualquer tipo de paixão. Para isso, torna-se necessário, quase sempre, comprovar as afirmativas. E essa comprovação só pode ser feita através de documentos: o que fez ou disse o próprio biografado; o que ele publicou; as cartas que escreveu ou recebeu; o que dele disseram os que de perto o conheceram; o que sobre ele escreveram os jornais. Bons ou maus - são documentos, que neste livro aparecem largamente utilizados.
O que se vai ler é um retrato escrito de Arnolfo Azevedo. Tal como ele era: no seu feitio de homem e de político, nas ideias (certas ou erradas, não importa) que defendeu e pelas quais se bateu intransigentemente, dentro da atmosfera e da mentalidade da época em que viveu.
De certa forma, este livro (mesmo sem o pretender) retrata também muitas facetas da vida política e das características da Primeira República, a que a revolução de outubro de 1930 pôs um ponto final. Com algumas de suas figuras marcantes, em particular Campos Sales, Rodrigues Alves, Epitácio