A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares na selva. Estudo na Região Amazônica

4. O fabulário

É comum no fabulário entrar a cinza como elemento básico da antropogênese, da zoogênese ou da fitogênese e míticas. Quando Poronominare jogou Jurupari (êmulo de Poronominare nas façanhas) no fogo, das cinzas do feiticeiro saltou um acutipuru, que, depois, se fez gente e saiu a ensinar os segredos de Jurupari.(51) Nota do Autor Aqui, vemos o sortilégio em duas etapas: primeiro o animal, depois o homem. Convém assinalar, como o veremos adiante, que, entre os Kaxinauá o Acutipuru se transforma em rapaz bonito para seduzir as mulheres e em morcego para vingar-se dos que namoravam ou eram casados com uma delas. Geralmente, as cinzas dos feiticeiros são geradoras de coisas vivas, maneira, parece, de transferência do morto para o que lhe substitui, de vez que o novo produto geralmente tem o dom de produzir encantamentos, seja animal ou gente.

Atirando cinza num rolo de fio, a filha da Cobra-grande mudou o fio na ave inambu. Com este ato separou a Noite do Dia e o inambu passou, com o seu canto, a anunciar as horas, de madrugada.

O Sol fez uma bola de casco-de-arco com cinza, esfregou-a entre as mãos, atirou-a no ar e fez nascer o primeiro.(52) Nota do Autor

Por ter morto sua mulher Kapa-Kuéi, Akréti foi atirado numa fogueira. De suas cinzas nasceu um cupim.(53) Nota do Autor

Das cinzas dos bocodori-exeráe (agente bororo que, mediante pacto, suicidou-se no fogo) nasceram o urucuzeiro (Nonógo) — de onde se extrai tinta vermelha —, o algodoeiro (Aquigo) e o cabaceiro (Poari).(54) Nota do Autor Das cinzas da cobra Tubi nasceram a mandioca, o milho e a batata.(55) Nota do Autor

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