APÊNDICE
Julgamos de interesse divulgar a técnica dos nossos aborígenes na fabricação da cerâmica.
O trecho abaixo, extraído de As aculturações oleiras e a técnica da cerâmica na Arqueologia do Brasil, de Angyone Costa, é de grande utilidade no presente estudo:
"A cerâmica está ligada ao estudo das primitivas culturas, ao ciclo das indústrias que primeiro o homem construiu. Corresponde ao fim do neolítico superior e surge muito depois da grande descoberta - o fogo -, muitos anos antes desta outra, que será o terceiro grande invento da humanidade, a roda, e que os povos americanos não conheceram. Nasceu da necessidade de cozer o alimento, quando o homem fez a experiência, levado pelo acaso, de que a argila era argamassável com água, e sujeita ao fenômeno de endurecimento, pelo sol ou pelo fogo. Aperfeiçoou-se quando os imperativos da vida no clã começaram a despertar no homem um indefinido desejo de melhora, uma insatisfação de instintos que o levou a construir o conforto. Naquele momento já a cerâmica exercia uma alta função, dela se faziam as peças para a mesa, as peças de finalidade religiosa, as peças destinadas a enterramentos. O oleiro já não gravava, apenas, o desenho rupestre, que aprendera a riscar com o sílex, no teto e na parede das cavernas, nas pedras e barrancos dos caminhos. Impressionava-se com as cores e os ruídos da natureza, e procurava distingui-los, verificar de onde vinham. Desta percepção resultou que os seus sentidos começaram a se apurar pela vista e a se manifestar pela habilidade da mão e dos dedos. E a tabatinga foi o material preciso, plástico e dúctil, que apareceu na hora exata em que os sentidos se achavam aptos à função criadora, e surgiram os traços em reta, os círculos, os pontos inspirados pelo tecido de certas plantas e, ainda, a reprodução de alguns animais, que viviam nas florestas ou que o homem começava a domesticar. O desenho singelo adquiriu formas mais ricas, círculos, traços, que se compõem, reproduzindo coisas ou cenas da vida, conforme o grau de sensibilidade de cada grupo ou as circunstâncias em que a cultura se desenvolveu. A cerâmica, sendo uma arte inicial e muito antiga, resulta de uma técnica já hoje perfeitamente vulgarizada. É bem a arte de utilizar a argila na confecção de objetos, tanto de uso doméstico como religioso, funerário ou propriamente decorativo. Pode ser feita com pasta porosa ou pasta impermeável. À primeira pertencem os objetos de barro cozido (terracota), as louças vidradas, esmaltadas, faianças etc.; à segunda, as porcelanas finas, que supõem uma civilização histórica florescente. Ao primeiro grupo pertence a louça dos oleiros de civilizações nascentes, a louça de Marajó, por exemplo, a dos tupi-guarani do litoral etc.
Na Amazônia, os oleiros empregavam como matéria-prima a tabatinga pura ou misturada com diferentes pós, que exerciam geralmente a ação de desengordurantes. Esses pós eram conseguidos de diferente maneira, segundo o testemunho de naturalistas e de arqueólogos que viram os nativos trabalhar. Deles, um dos mais preciosos