Tais índios, diz-nos Frederico Barata, não eram mais os tapajó, cujos últimos representantes haviam sido exterminados pelos portugueses, aliados aos munducuru, após o ataque a Santarém de 1835 a 1836. Tão poucos lograram escapar da carnificina que, em 1852, Bates apregoava não se encontrar um velho ou homem de meia-idade(1) Nota do Autor.
Um século após, a cidade de Santarém espalhou-se por toda a antiga Aldeia, desaparecendo por completo entre sua população a recordação dos primitivos moradores. Pessoas idosas, interpeladas pelo pesquisador Frederico Barata, apenas se referiram ao tempo dos indígenas como coisa de um passado remoto e quase esquecido.
Continua Frederico Barata:
"E, menos do que qualquer tradição oral, o que concorre para manter viva a lembrança de terem índios outrora vivido na Aldeia, o próspero bairro santareno dos nossos dias, é o constante aparecimento à superfície das 'terras-pretas', nos quintais das casas ou nas ruas, de pedaços da velha cerâmica indígena que, se são diminutos, o povo conhece pela designação de 'caretas', ou como 'panelas de índio' se são vasos de forma definida ou menos fragmentados."
Já Nimuendaju(2) Nota do Autor, ocupando-se das "terras-pretas" como moradas antigas dos tapajó e estranhando que Hartt (1870-71) e Smith (1874), ao fazerem o levantamento geológico do rio Tapajós, tenham citado tantas e desconhecido a maior de todas, que é a de Santarém-Aldeia, aponta a rua da Alegria e as suas travessas como as mais ricas do que chama "restos de cerâmica velha".
Em 1944, Robert e Rose Brown, trabalhando vários meses na Aldeia, conseguiram reunir a grande coleção museológica, hoje no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Posteriormente, Frederico Barata, pesquisando no mesmo local, encontrou depósitos de cerâmica, que denominou de "bolsões", os quais reuniam num só ponto toda a cerâmica dos indígenas. Explica ele a existência de tais bolsões pelo fato de, ao se estender a cidade de Santarém em direção à velha Aldeia, deparavam-se os novos moradores com o terreno coberto de vasos e fragmentos abandonados outrora pelos índios. Para limparem os seus quintais, fosse por uma questão simplesmente de asseio - diz-nos Barata -, fosse por um certo temor supersticioso em relação aos objetos indígenas, que sabiam sempre ligados ao culto dos mortos, cavavam um buraco e varriam para dentro a cerâmica espalhada na superfície. Por isso não raro se encontra assim, concentrado num mesmo ponto, o material arqueológico; e, por esse motivo, em geral, são os vasos achados completamente fragmentados, embora