INCURSÃO NO MUNDO DE UMA ARTE ANTIGA
Brasileiros de todos os pontos do território pátrio já ouviram falar, alguma vez, da chamada arte dos primitivos habitantes do Brasil; já puderam, talvez, admirar suas representações e identificar a motivação e as características morfológicas dos curiosos objetos de barro - com desenhos de linhas simples e cores fortes - que compõem o acervo difuso dessa arte rústica.
A arte marajoara, a mais difundida, como tantas outras manifestações da criatividade humana, originária do fundo remoto dos tempos, tem conteúdo amplo e rico. Amplo, no sentido de que sua ocorrência é registrada em diferentes lugares situados na extensa região geográfica pela qual o rio Amazonas se aproxima do Atlântico e o atinge. E rico, pode ser dito, porque as formas de cerâmica trabalhada e respectivos ornamentos - veículos da mensagem dos criadores dessa prática - revestem-se, hoje, para o estudioso, de uma significação muito maior do que a sugerida pela simples beleza plástica que os objetos exibem.
Além da beleza e harmonia de proporções pousada na face externa, esses objetos - urnas, vasos, modelagens de homens e animais - refletem com intensidade e magnitude todo um desconhecido universo cultural, em que estão inseridas as crenças e os costumes dos grupos indígenas responsáveis pela autoria desse legado que atravessou o tempo e chegou até nós.
Universalmente, os grupos humanos primitivos sempre usaram as habilidades técnicas conquistadas na fixação de imagens e signos, para documentar - ante os que viessem depois - seus procedimentos no cotidiano e suas representações mentais do sobrenatural. Há muitos séculos, povos do nosso planeta, até os egípcios e seus vizinhos do Oriente Médio - de onde deve ter começado a história do mundo ocidental -, deram-nos copiosa e exuberante demonstração desse propósito de comunicar-se com a posterioridade, através de desenhos singelos e inscrições que falam de seus hábitos e crenças.
O exame desses legados arqueológicos deve ser feito não apenas pela consideração objetiva de cada objeto ou figura, mas, sobretudo,