Em toda a lagoa, naquele ano de seca excepcional, a profundidade não ultrapassava dois palmos; porém, nos verões normais, acima de um metro e, nos invernos, de dois a três metros de água ocultam a cidade extinta. A enorme extensão, de quase dois quilômetros em certas direções do principal aglomerado de esteios, convenceu Lopes de que ali existiu uma grande povoação lacustre, acusando a cerâmica e os objetos de pedra da localidade a atividade de uma população considerável e organizada. Num contraste, acha-se a quase totalidade dos artefatos líticos e oleiros em um pequeno grupo isolado de esteios, na parte mais afastada das margens. Por esse motivo, o lugar foi chamado pelos moradores de cacaria.
Quanto à estearia, na sua maior parte, é pobre de documentação. Os esteios implantados no barro de campo, expressão local da vasa espessa e azulada, encontrada no fundo do lago Cajari, conservam bem a sua parte inferior.
A grande proporção de boas madeiras na estearia milita em favor da ideia de que esta suportou elevadas construções.
O encontro de vestígios em terra firme na margem do lago Cajari, no lugar chamado Urubuquiçaua, indica talvez que os habitantes da cidade lacustre serviam-se dela para refúgio, não excluindo, contudo, outras formas de ocupação humana.
A decoração da cerâmica cajariense
Na cerâmica dos lacustres maranhenses, as formas não se repetem, encontrando-se o desenho em volutas, o tipo das retas intersectadas, o de raios verticais e zonas circulares, fino e regularíssimo, o de curvas irregulares, o triangular-losângico. As formas de cabeças de animais, de asas e de acessórios não são menos variadas. É opinião de Raimundo Lopes que, qualitativamente, isto é,
"como ideação, a arte cajariense, mais frágil, mais graciosa nas suas formas, mais leve, parece ter, com títulos mais autênticos que a dos extintos guianeses, um espírito comum com a melhor arte marajoara, da qual se aproximam também os seus recursos quanto ao colorido, como o uso da pintura vermelha e preta em fundo claro."
Este espírito comum - continua Raimundo Lopes - é o que se pode chamar de naturalismo artístico, e ressalta especialmente nos vasos zoomorfos, com a sua tão notável subordinação harmônica de dado natural à forma geométrica, tanto na olaria dos lacustres como na de Marajó. Há, nas civilizações americanas, uma certa semelhança geral de cultura, especialmente de cerâmica, sendo esta o único termo comum de comparação entre os povos do continente. Raimundo Lopes acha temerário, malgrado os seus traços comuns, confundir