Fragmentos de cerâmica brasileira

Existe uma antiguidade relativa de uma parte das urnas descobertas perto da costa e nas ilhas da embocadura do Amazonas. Elas são pós-colombianas, pois encontraram-se objetos de procedência europeia. Enterramento secundário em urnas antropomorfas se praticava ainda nessa região no século XVI.

Se procurarmos fora da bacia do Amazonas urnas antropomorfas análogas às que foram descritas aqui, encontraremos as que lhe sejam semelhantes, como fez Torres, no norte da Argentina; são urnas ornamentadas com um rosto em relevo.

Na Venezuela, na Colômbia e mesmo, segundo observações de Uhle, perto do rio Napo, no Equador, encontramos vasilhames análogos às peças curiosas de Maracá em forma de personagens masculinas ou femininas assentadas em um banco. Nos territórios do oeste da América do Sul, desde a Argentina até a Colômbia, os vasos antropomorfos são muito correntes.

Eles ainda se usam em vários lugares e, sobretudo, entre os indígenas de Chocó, mas, que saibamos, eles não eram ou não são empregados ao sul da Colômbia como urnas funerárias.

Cremos, entretanto, que exista um liame provável entre os vasos antropomorfos empregados como xícaras, garrafas etc. no oeste da América do Sul e as urnas funerárias antropomorfas do leste dos Andes. Historicamente, deve ser esta a explicação: os povos que viviam a leste dos Andes possuíam certamente urnas funerárias simples. Quando viram os vasos antropomorfos vindos do oeste, eles os imitaram em urnas funerárias. Na Amazônia, a evolução da arte cerâmica é assinalada pela passagem da decoração modelada (cabeças de homens ou de animais), das linhas entrelaçadas e das gravuras em baixo-relevo para a ornamentação pintada. Suponho que essa transição se deva em grande parte à influencia dos Andes. Nas ilhas mais distanciadas do continente, como Haiti e Jamaica, não se acha - fato típico assinalado por Loven - nenhuma peça cuja ornamentação pintada tenha sido feita antes do cozimento. A imigração dos aruaque nestas ilhas é anterior à época em que eles tenham aprendido a cozinhar a pintura aplicada sobre os vasilhames.

Esta migração deve ter tido lugar, como disse Loven, num tempo onde a cerâmica era ainda muito arcaica. Em Santarém, é bastante difícil demonstrar a influência da civilização peruana. Ao contrário, existem entre a cerâmica deste lugar e a da América Central analogias bem acentuadas. A influência centro-americana deve ter sido contemporânea à do Peru, e achamos que é dela que emanou a ideia de vasos com três pés e de certos tipos de cerâmica encontrados em Santarém e em Maracá. A invenção do trípode foi particularmente aplicada na região de Mojos, na Bolívia. Não a encontramos senão raramente noutros lugares.

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