Do seu convívio eu não recebi apenas a impressão de uma das mais poderosas e surpreendentes organizações intelectuais da nossa raça; mas, principalmente, a impressão de uma das mais nobres consciências cívicas que tenho até agora conhecido. Ninguém poderá imaginar, a não sermos nós, que vivíamos dentro da sua afeição e recebíamos as suas confidências, ninguém poderá imaginar o que havia de sinceridade, de devoção, de abnegação, de patriotismo exaltado e puro nesse tipo perfeito de cidadão, que era Torres. Este homem, dotado de uma sensibilidade quase mística, fez-se uma espécie de caixa de ressonância de todas as agonias e tristezas da sua pátria. A cada golpe vibrado contra as leis, o direito, os interesses nacionais pelos políticos desalmados que governavam (ou desgovernavam) o país, eu o via sofrer não apenas moralmente, mas mesmo fisicamente, agitar-se, exaltar-se, indignar-se, ou cair em estado de desânimo irritado, que lhe ia abalando, aos poucos, a saúde e acabou arrebatando-lhe a vida. Ah, como os políticos fizeram sofrer a Torres!