Reservas de brasilidade

uma das tais infusões feitas no lugar com raízes, flores e hastes de plantas nativas. Houve até quem fundasse uma indústria aperfeiçoada em Belém, aproveitando a grande variedade de resinas e vegetais perfumados da flora amazônica. A indústria de Santarém é, todavia, muito rudimentar; é o ganha-pão de algumas famílias do lugar, que vêm guardando o segredo das infusões. E, aqui devemos fazer um parêntesis explicativo.

A confecção da água de cheiro é feita sob certas praxes, contendo a infusão, no dizer das suas vendedoras, virtudes cabalísticas. A água de cheiro na Amazônia é, aliás, um atributo necessário no toucador das mulheres. Na noite de S. João há uma praxe obedecendo a certa liturgia regional — o banho de cheiro à meia-noite. Não há negar que é o mais encantador costume joanino que temos encontrado no Brasil. Em Mato Grosso existe o banho na própria imagem, levada em charola à beira do rio. No Amazonas o banho é no próprio crente e com água de cheiro... Não se pense que são usadas no ritual as essências estrangeiras. Não; o perfume é retirado da inesgotável flora regional. O material para a confecção é enorme. Pudesse ele ser aproveitado em inteligente indústria e acreditamos que colocaríamos de lado a banal e cara produção que nos vem de fora.

Entre as ervas perfumadas encontramos essências verdadeiramente raras. A mucuracaá, a pataqueira, a manufa, o capim cheiroso, o cipó-catinga, a japana, o capim-tihú, o cabi, o cipó pucá, enfim, uma

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