do Estado, a ação benéfica da rainha Felipa de Lencastre, que os educou. Representou ela, em Portugal do reinado florescente de D. João I, o papel de boa conselheira que ensinasse, igualmente, proveitosas lições de Inglaterra. A aliança anglo-portuguesa àquela época se manifestava por uma interdependência comercial que envolvia interesses mais profundos. O mosteiro da Batalha (é um exemplo), o maior monumento do tempo, é de traça inglesa. E os negociantes, os marinheiros das navegações nórdicas, os descendentes ou continuadores dos vikings, que primeiro percorrem, de leste a oeste, o Atlântico setentrional? Criaram-se por certo os infantes ouvindo histórias de viagens, casos e episódios do mar obscuro. Antes de morrer, Felipa de Lencastre incitou o marido e os filhos a conquistarem Ceuta. É o seu temperamento saxônico, seguramente fleumático e voluntarioso, que vemos reproduzido no perfil moral de D. Enrique, distinto dos irmãos na placidez dos estudos, enquanto a estes singularizavam virtudes desencontradas.
D. Duarte, que sucedeu ao pai no trono, foi soldado e escritor; D. Pedro, o de Alfarrobeira, curioso de tudo, viajante à aventura, guerreiro e homem do mundo; D. Fernando, flor de santidade, o intrépido rapaz que acabou, martirizado, às mãos dos mouros; D. João, lidador como os outros, famoso pelos discursos eloquentes... Equiparavam-se no bom senso, que, a crer em Azurara e outros cronistas, fazia deles, sempre que ouvidos em conselho, dialetas magníficos, e - o que mais assiná-la a qualidade da instrução que lhes foi ministrada - no amor da cultura literária. A este aspecto, D. Duarte se afigurava o mais notável, pelo que escreveu; mas, deveras, à frente ia D. Enrique pelo que assimilou, conheceu e fez. D. Pedro, alcunhado de "sete partidas", pelas viagens em que andou as "sete partidas do mundo" serviu principalmente de elo,