História do Brasil T1 - As origens (1500 - 1600)

nas suas casas do cabo de S. Vicente, perto de Lagos. Cresce daí a fama de solitário de Sagres. Dá-se inteiro às tarefas de pensamento e ação. Vive como um religioso, entre penitências, jejuns e eclesiásticos. Mas o número de seus amigos se amplia extraordinariamente, com os marinheiros de todas as procedências que atrai ao porto de Lagos, os físicos, os pilotos, os aventureiros que podem ser úteis aos empreendimentos que imagina. Os contemporâneos teriam dele uma impressão desfavorável, algo amedrontada: um excêntrico. De resto, é um estadista. Sacrifica inexoravelmente ao interesse do Estado e de suas navegações os seus afetos, as suas preferências. Por não largar Ceuta, permite que o Infante Santo morra em Fez. Por não enfraquecer o trono, desampara o Infante D. Pedro, em briga com o sobrinho Afonso V, deixando que acabasse tristemente no campo de Alfarrobeira. É frio e metódico como um inglês. Se na biografia de D. Pedro resplandecem as galhardias do pai, cavaleiro entre os mais perfeitos do século, na de D. Enrique transparecem raça e espírito de Felipa de Lencastre. "Talent de bien faire", é sua divisa, no francês que vigorava na corte de Inglaterra. Depois, adota outro mote, composto de três letras: I. D. A. Com elas formava a palavra, que era voz de comando: "ida". "Ida"... às Áfricas, para tomá-las. "Ida"... ao mar nunca antes navegado,(1) Nota do Autor para achar-lhe o extremo. "Ida", como sinônimo - diremos - de movimento, resolução de partir para a "sua" aventura perturbadora das cartas geográficas, vontade de juntar ao mundo conhecido o mundo, bem maior, que se ignorava... No modo ascético de viver repetia o costume dos donzéis-cavaleiros, como outrora o Condestabre, que se votavam com pureza à causa sustentada pelo coração e pela espada.

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