das estradas de ferro e, em particular, o papel econômico que viriam a representar, na certeza de que seu advento ocasionaria o término do chamado ciclo do muar e, com ele, a importante função exercida pelas "tropas-de-burros", em suas andanças pelo país, a par da desvalorização do capital aplicado na manutenção desse sistema de transporte. Ao enumerar os diversos fatores que fizeram retardar a construção de vias férreas em nosso país, MORALES DE LOS RIOS FILHO não se esqueceu de pôr em realce, ao contrário de outros estudiosos do assunto, a "terrível oposição" que sempre lhes fez o nosso tropeiro, o dono das tropas de animais de carga. Porque,
"O tropeiro era um tudo: transportava mercadorias, materiais, produtos, valores, correspondência, dinheiro, jornais, encomendas e pessoas.
Foi o transmissor de recados políticos, o leva e traz das cartinhas amorosas, o disseminador de notícias e boatos. Ouvia as coisas do sertão e as transportava para a Corte; trazia dela, para o interior, as novidades, às vezes bem velhas. O tropeiro, que monopolizava tudo isso, não podia aceitar o evento da estrada de ferro"(13) Nota do Autor.
Como se tudo isso não bastasse, cumpre lembrar que o Brasil de então vivia dias intranquilos, tendo como Imperador um adolescente, a Guerra dos Farrapos ensanguentando o Sul (pois só teve fim em 1845), a Revolução Liberal pondo São Paulo e Minas Gerais em pé de guerra (1842), a Revolução Praieira convulsionando Pernambuco (1848).
É evidente que o Dr. Thomas Cochrane, empolgado pelo seu ideal, não soubera escolher o momento oportuno para levar avante o grande empreendimento. Daí as suas lutas. Daí o seu fracasso, afinal.
Por longos e atribulados doze anos (durante os quais constituiu família, através de seu casamento com Dona Helena Augusta), procurou, como um titã, tornar realidade a concessão que obtivera em novembro de 1840.