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Mas esse povo que não pode ler as constituições e leis que para ele preparam os seus sábios e magos tem uma faculdade mais antiga e mais profunda que o conhecimento do alfabeto. É o instinto social, a embrionária intuição política que vem guiando o homem desde o alvorecer das primeiras sociedades rudimentares. De norte a sul do país, as massas que se estratificam em sucessivas camadas, desde a ignorância bronca do jeca até as veleidades culturais dos semiletrados da classe privilegiada, vinham sentindo as antinomias da nossa organização política com a realidade brasileira, a que permaneciam insensíveis os expoentes da cultura, hipnotizados pelas lombadas dos ídolos das suas bibliotecas. A campanha oposicionista que solapou durante 30 anos os alicerces da primeira República teve êxito afinal porque serviu para estimular as faculdades intuitivas do povo, levando-o a uma espécie de visão direta das incongruências da nossa situação política. Foi assim que se criou um verdadeiro misticismo revolucionário vitalizado desde 1922 pela audácia e tenacidade de um grupo de homens de ação.
O acolhimento nacional ao movimento de outubro foi, portanto, um gesto espontâneo da consciência coletiva, em que já bruxuleava uma ideia mais ou menos clara da necessidade de repararmos afinal o grande erro