Tavares Bastos (Aureliano Cândido): 1839-1875

superior, executá-la, sem outro exame. Não compreendera assim a multidão, ferida na sua ternura regional. E as vozes do seu protesto encheram a cidade, num clangor de revolta.

Entregue pelo Juiz de Paz ao presidente uma representação, contendo inúmeras assinaturas, solicitando veementemente o não cumprimento da ordem, o povo consegue serenar um pouco, ante a promessa do governo, de que despacharia, dois dias após, o pedido apresentado, sem entretanto dissimular a sua irritação.

Eis que surge no momento um jovem ardoroso e eloquente agitador, que se não conforma com aquela dilação e, aproveitando-se de um fato, todo particular, que lhe deveria ser pessoalmente desagradável, dele tira o mais retumbante efeito teatral. O tribuno imprevisto acabava de receber uma carta, comunicando-lhe que o presidente de Sergipe, atendendo aos protestos da população de Vila Nova, se recusaria a dar posse ao novo Juiz de Direito nomeado para aquela Comarca. E o magistrado, assim ferido, não era mais do que o próprio orador, que naquele instante inflamava a multidão. E pateticamente exclama: "Assim deve proceder o administrador que tem afeição ao povo, enquanto que o presidente desta Província, de propósito, procura todos os meios para manifestar o seu ódio aos habitantes da cidade das Alagoas".

Essas palavras foram o grito de guerra. A multidão, tão fácil sempre de se deixar arrastar, como já observara Tito Livio - facile multitudini persuasum -

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