Os dois Brasis

elemento europeu minoritário e do elemento indígena colonizado e esses dois elementos são suscetíveis de entrar em conflito à medida em que esses países evoluírem para estruturas mais democráticas. O Brasil, de povoamento muito mais europeu do que os países andinos e muito mais ameríndio do que os do Prata, teve o acréscimo de um terceiro elemento, tão importante quanto os outros dois: o elemento africano.

A própria complexidade desse povoamento obrigou o país a fundir os elementos numa cultura homogênea em que predominam os contingentes europeus, mas de que todos participam. O Brasil não é, assim, nem um país novo, nem um velho país colonial; se a América Andina é cada vez mais uma América Indígena e a América do Prata, cada vez mais uma América Europeia, o Brasil constitui uma América Brasileira, de predominância europeia acentuada, conquanto original.

Com efeito, se bem que os portugueses não tenham encontrado no Brasil, como os espanhóis na Argentina, senão populações indígenas primitivas e pouco numerosas, essas populações não desapareceram, nem tão depressa, nem tão completamente diante do europeu, quanto as do Uruguai ou da República Argentina. A fazenda brasileira foi menos desfavorável ao indígena do que a estância dos criadores argentinos ou a pequena propriedade familiar dos agricultores norte-americanos. O paternalismo do grande proprietário brasileiro, ao contrário do paternalismo dos jesuítas do Paraguai, não procurou de forma alguma proteger o índio mas, indiretamente, atenuou um pouco os efeitos mortais, para o primitivo, do contato com o europeu. A fazenda tinha necessidade de mão de obra servil e a escravatura humanizou os contatos de raça e de cultura, como tem acontecido na História, sempre que grandes diferenças entre raças e culturas em contato não permitem outra alternativa além do massacre ou da escravidão. Enquanto o agricultor pobre dos E.U.A. massacrava o índio de quem cobiçava as terras para as cultivar ele próprio, o grande proprietário brasileiro escravizava o índio cujas terras cobiçava, obrigando-o a cultivá-las em seu proveito.

Os índios primitivos do Brasil adaptaram-se, sem dúvida, muito mal ao trabalho servil e a escravatura foi mortal, mas a colaboração forçada dos índios com os colonos não deixou por isso de ser bastante geral e durável para permitir à raça

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