de Marca de João Angô, "Portugal comprou os louros dos seus navegadores com o melhor do seu sangue, pagou anos de triunfo com séculos de anemia". As negociações, portanto, entre soberanos da época acompanhavam a situação dos respectivos tesouros, todos atenazados por tremendas aperturas e desejos delas se livrarem à custa dos rivais.
O rebalsar da situação financeira de Francisco I obrigou-o por várias vezes a ceder aos rogos do português. Alternava apoio aos normandos, com anuência a ofertas de embaixadores lusos. Concedia e retirava cartas de corso, levantava-se contra as pretensões dos primos concorrentes, curioso, como dizia, de ver o testamento do pai Adão que o excluía da partilha do mundo, e recorria, depois de revés sofrido na Itália, a D. João III para que lhe emprestasse o dinheiro exigido por Carlos V como resgate. O resultado de tão dúbia atitude esterilizava os esforços de Angô e sindicato, se bem tivessem alcançado molestar portugueses a ponto de estes admitirem a possibilidade de uma infração ao monopólio brasílico, senhores da terra os descobridores, de acordo com as pretensões dos normandos sobre regiões "oncques chrestien n'estoit encores allé", tese também defendida pelo luso quando tratava com espanhóis, mas ardentemente recusada por ele quando lhe afetava interesses coloniais.
Salvaram a Portugal as guerras de religião na França. Ainda não refeitos da desastrosa competição entre Francisco I e Carlos V desandaram os franceses em porfia pior, mais danosa outrora do que para a nossa geração hodierna conflitos sociais-econômicos. Com isto logrou o português estabelecer no Brasil o regime das capitanias hereditárias e mais medidas tendentes a conservar sob sua bandeira grande parte da América do Sul.