Jorge Tibiriçá e sua época (1855-1928) T1

Gastas prodigamente as forças em proveito alheio, só restava a São Paulo, no início do século XIX, um potencial de energias humanas à espera de novos surtos de atividade.

O século dezenove é que vai movimentar essas forças e obrigar o paulista empobrecido a constituir um patrimônio verdadeiramente estável. O homem errante, cansado de peregrinações estéreis e depois de um período em que vegetou em situação mesquinha, sentirá de novo o despertar de sua força interior, desta vez para lavrar a terra e obter o ouro em troca de um labor intenso e bem dirigido. Do passado ficará a lembrança de altos feitos, o colorido de glória e orgulho ligado aos esforços para colher um ouro que se evaporou todo e, depois de parar um pouco nas arcas lusitanas, foi rechear os cofres do Vaticano. Os descendentes dos bandeirantes, conforme se verifica pelos inventários publicados, não tinham riquezas monetárias a transmitir aos filhos, pois o ouro que não passara para Roma estava transformado em libras esterlinas. O capital disponível consistia, numa pequena agricultura de cereais e de açúcar e numa limitada indústria pastoril de processos muito empíricos. Os mais opulentos possuíam sítios em que ocupavam algumas dezenas de escravos, único instrumento para proceder ao amanho de glebas cansadas.

Tornado o Brasil independente e com a participação ativa de ilustres paulistas, chegara a hora de o arcabouço social, formado pelas antigas famílias bandeirantes, operar a obra de fixação à terra e reabilitar-se de sua decadência patrimonial.

São Paulo era uma província pobre, mas de ânimo fortíssimo, pronta a operar rapidamente milagres de

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