O que relatamos nada acrescentou ao que pudemos captar, restringindo-nos à divulgação dos fatos, totalmente escoimada de romanceamentos ou fantasia.
Sabemos que Jorge Tibiriçá era ateu e materialista, como fora seu progenitor. A exemplo do pai jamais blasonou tal ausência de religião e silenciava acerca desses princípios. Se insistissem, porém, em querer atacá-lo no reduto de suas convicções, encontravam logo o homem intransigente que opunha a quaisquer tentativas de debates, o escudo impenetrável de suas concepções científicas e filosóficas. Delicado e tolerante, não invadia o domínio das crenças alheias e as respeitava com suma cortesia. Mas o seu ateísmo era inexpugnável e se ajustava a uma consciência límpida e pura, que os crentes poderiam julgar formada pelos melhores preceitos da religião. Os seus sentimentos eram, a bem dizer, supercristãos, sem que ele admitisse quaisquer pendores místicos ou a mínima influência dos dogmas e da fé.
Narra o dr. Jorge Tibiriçá Filho que o pai, alheio aos ensinamentos da Igreja, praticara, como os mais irrepreensíveis servos de Deus e do Cristianismo, os dez mandamentos da lei mosaica, sendo lícito interpretar quanto ao primeiro, que, ao cultuar a bondade e o respeito humano implicitamente se verificava o amor a Deus, embora não declarado em preces e atitudes rituais. D. Alberto, bispo de Ribeirão Preto e amigo íntimo de Jorge Tibiriçá, com quem discutia os mais variados temas sociais e filosóficos, dizia-lhe: "Sei que você não tem religião, mas você é tão bom que morrendo vai para o céu".
Poucos dias antes de falecer, Jorge Tibiriçá, cujos padecimentos físicos em nada lhe alteraram a serenidade no julgamento das coisas e dos homens, lembrou em palestra com os filhos algumas passagens de sua vida