Jorge Tibiriçá e sua época (1855-1928) T2

pública e a peçonha que silenciosamente tragara em emergências delicadas para o Estado. Avesso a retorquir às insinuações da maledicência, costumava dizer à esposa, a propósito de injustiças e vitupérios impressos que tanto ofendiam a sensibilidade da família: "Os maus por si mesmos se destroem".

Abriu-se, entretanto, em confidências e comunicou que na vida política colhera um sem-número de amarguras e prejuízos patrimoniais irreparáveis, exatamente quando já lhe escasseavam as forças para recomeçar novas experiências de lavrador. Recordava quanto um dos seus primos, um Queirós Teles, insistira, por volta de 1896 ou 1897, para que ele fosse comprar glebas na Alta Mogiana e abrir uma fazenda em terras de extraordinária feracidade — que eram "um verdadeiro torrão de ouro". Preferira, contudo, sustentar as antigas lavouras e até se ressentira um pouco das advertências da sogra e tia, Condessa de Parnaíba, ao ouvir da ilustre dama que ele estava a descuidar-se em demasia dos seus interesses financeiros.

Reconhecia Tibiriçá a justeza de tais conselhos e confessava o sofrimento de um fim de vida, ensombrado pela doença, o cansaço moral, a desilusão, o sacrificio dos bens e da saúde, consequências de uma atração sem dúvida excessiva pela politica. Quanto a esta, à qual se votara com sincero ideal republicano, tinha-lhe sondado as infinitas torpezas, as misérias de um meio onde proliferam, em prejuízo dos homens puros, os piores parasitas e exploradores da sociedade. E rematou com estas palavras: "Infelizmente, política, para muita gente só serve para furtar". E após esta exclamação dolorida, pediu aos filhos que não se excedessem nas lutas partidárias.

A ordem foi religiosamente obedecida pelos filhos de nobre varão paulista.

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