Os portugueses não foram os inventores do comércio do escravo negro, e, com o correr do tempo, eram ultrapassados naquele tráfico pelos holandeses e pelos ingleses(4) Nota do Autor, mas foram pioneiros no que se refere à escravatura a serviço da lavoura, pelo menos quanto a essa prática em escala considerável. O grosso dos escravos que obtiveram na África Ocidental foi, de início, comprado na costa da Guiné, e quase todos pertenciam à raça sudanesa ocidental. O centro do comércio deslocou-se, depois, em direção do sul, para o reino banto do Congo, e, após a fundação de São Paulo de Luanda, em 1575, para o "reino" de Angola, que mais tarde se estendeu, para incluir Benguela(5) Nota do Autor. O licenciado Domingues de Abreu e Brito, entusiástico relativo ao que parecia ser as ilimitadas possibilidades daquele mercado para o "marfim negro", em 1591, assegura à Coroa: "achei que a cousa dos escravos era hua das môres escallas que se oje sabia a qual não cancaria até fim do mundo pella terra ser muito povoada"(6) Nota do Autor. Menos de um século depois, todavia, várias autoridades deploravam o sério declínio da população de Angola, devido a guerras destrutivas para ambas as partes, excessivo trabalho forçado, incursões em busca de escravos, e devastações produzidas pela varíola(7) Nota do Autor.
Apesar desse declínio demográfico na região onde outrora existira o mercado negro mais populoso, os portugueses do Brasil continuaram a obter a maioria de seus escravos daquela mesma procedência. Controlando o litoral de Angola, e não tendo ali concorrentes estrangeiros, era mais barato para eles, além das demais vantagens, comprar escravos ali do que na costa da Guiné, de onde tinham sido expulsos pelos holandeses de sua primitiva colônia, enquanto eram suplantados em outras regiões pelos ingleses. Mantinham, ainda, domínio bastante precário em Cacheu e Bissau, do lado oposto das Ilhas de Cabo Verde, e podiam, também, negociar com a Guiné Inferior através das Ilhas de São Tomé e Príncipe, mas seu negócio no Golfo de Guiné foi muito embaraçado