A fundação da Aldeia de Piratininga em 1553 não partiu espontaneamente dos índios
A 15 de junho de 1553 Nóbrega anuncia que "no Campo daqui 12 léguas se querem ajuntar três povoações numa para aprenderem melhor a doutrina cristã e mostram grande fervor e desejo de aprender o que lhes preguem".(1) Nota do Autor
Pode esta frase significar ajuntamento espontâneo dos índios?
Em rigor, atendendo-se apenas à materialidade destas palavras "se querem ajuntar", podia-se interpretar nesse sentido, embora fosse contra a prática habitual dos índios em se fazer cristãos - o que já devia pôr de sobreaviso a quem faz história. Aplica-se realmente aqui o lugar comum de que "sem documentos não há história", mas com a sua contrapartida imediata: "não se faz história sem se conhecerem os documentos". E dois mostram que o ajuntamento não foi espontâneo.
Nóbrega no Diálogo sobre a Conversão do Gentio, escreve: "Que direi da fé do grão velho Caiubi, que deixou sua Aldeia e roças e se veio morrer de fome em Piratininga, por amor de nós, cuja vida e costumes e obediência amostram bem a fé do coração?".(2) Nota do Autor
E ao falecer o mesmo Caiubi em 1561 diz o seu necrológio: "Este era um velho de mais de cem anos, que sendo morador noutro lugar duas léguas de Piratininga, dizendo-lhe os Padres que viesse para Piratininga, para aprender as coisas da fé, logo deixou quanto tinha e foi o primeiro que começou a povoá-la, indo de certos em certos dias buscar de comer com a sua gente ao outro lugar, que pelo amor de Deus tinha deixado, onde tinha as suas roças e fazendas".(3) Nota do Autor
Caiubi e os seus índios vieram para Piratininga "por amor de nós" (testemunho do Padre Nóbrega), "porque lho disseram os Padres" (testemunho do Irmão Anchieta).