Pernambuco e as capitanias do Norte (1530-1630) – Volume II

Para reforço da sua argumentação traz a carta curiosas opiniões acerca do espírito dos índios: "De mais disto he mui notavel o dano que os ditos gentios recebem estando muitos juntos como estão nas ditas doutrinas (aldeas de missionários) e por espaço de muito tempo em hü mesmo lugar sem se trasladarem de huãs partes a outras: porque de mais de ser isso contra seus ritos e agouros e costumes antigos de seus avos cõ qualquer doença parecem tanto como podem perecer por razão de algüa notavel peste porque alem de não admittirem medicina estando em suas aldeas não tem possibilidade para mais que para se sugeitarem a aquillo que a natureza quizer obrar nelles; sendo sempre mais poderoza contra sua saude a imaginação de seus ritos".

Discriminava a carta o fruto do trabalho dos povoadores, a superioridade que alcançavam sobre os de Pernambuco, graças ao numeroso gentio de que dispunham, pelo que só deviam intervir os doutrinadores, "os religiosos da Companhia", onde fossem reclamados, ou seja nas conflagrações em que era preciso amansar a indiada enfurecida, abstendo-se de comparecer nos lugares já pacificados.

Concluía afirmando não haver inconveniente algum ao serviço de Sua Majestade, "o deçerem os moradores destas partes gentios" pois não só davam braços as capitanias como recebiam grande "proveito para a salvação de suas almas", de onde se devia voltar ao que Feliciano Coelho de Carvalho assentara nas pases com o gentio, sendo considerados presas de guerra, e portanto passíveis de trabalhos na lavoura, os transgressores índios que cometessem danos contra os sesmeiros.

Varnhagen, Historia Geral do Brasil, I vol., 1ª ed. p. 469.

Pernambuco e as capitanias do Norte (1530-1630) – Volume II  - Página 476 - Thumb Visualização
Formato
Texto