História social do Brasil - Espírito da sociedade colonial - Tomo I

do rio de S. Francisco, a inflexão paradoxal do seu curso, o rumo franco do sertão. O caminho líquido venceu a serrania-limite. A condensação demográfica das Minas Gerais – que foi o grande fato da colonização do Brasil no seu III século, como no II fora a recuperação do nordeste aos holandeses e no I o ciclo açucareiro do litoral – desviou para o oeste e o sul o mameluco desalojado pela disciplina, pela cooperação, pela tenacidade das hordas intrusas.

A ideia de uma América portuguesa, unida, homogênea, imagem tropical da metrópole, apoderara-se do espírito do colono desde as primeiras viagens. Brasil era toda a América submetida ao seu rei. Coincidia – a reforçar aquele conceito de unidade colonial – com a costa onde o gentio falava uma "língua geral", apesar dos seus diferentes climas, da difícil intercomunicação marítima, impossível em vários trechos, e dos óbices naturais – as cadeias de montanhas, a barreira florestal, a tapuiada, inimiga dos índios tupis, os rios de meia água, o deserto seco. Mas, sem a corrente do S. Francisco, não teria o emboaba tomado o lugar ao íncola, a sociedade litorânea não se desdobraria até ao centro do país, a civilização brasileira não se meteria por terra dentro, remorada pelas montanhas, dispersada pelas planícies, polarizada pelos vales, mas impelida, para os grandes deslocamentos, pelos rios nacionalizadores, o S. Francisco (o rio emboaba do povoamento do nordeste e de Minas), o Tietê (o rio "paulista" da incorporação de Mato Grosso), o Amazonas (o rio "português" do balizamento setentrional).

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