História social do Brasil - Espírito da sociedade colonial - Tomo I

guiada pelo mameluco que copiara os costumes gentílicos e se substituíra ao índio, o engenho moralizado pela Igreja, hierarquizado pelo Estado, enriquecido pelo comércio internacional. A Serra do Mar foi o forte divisor de águas. A barreira natural. À jusante dessa muralha penhascosa estendia-se, beirando o mar, a agricultura do colono granjeada pelos seus escravos. Circunscreviam-na tanto a natureza como os tapuias indebelados. Porém lá em cima era o livre sertanista que viajava desembaraçadamente em todas as direções pelo continente dentro, agricultor por necessidade, fazendo à moda tupi as suas "roças", mas pastor por vocação, caçador de índios por indústria, caçador de esmeraldas ou de jazidas de ouro depois – raramente se comunicando com as povoações do litoral, quase sempre insubmisso a toda forma de governo, obediente apenas aos seus chefes familiais, também seus capitães.

A iniciativa portuguesa criou o Brasil agrário da costa; a audácia mameluca juntou-lhe, a esse Brasil de formação exterior, cuja principal riqueza, o açúcar, foi importada, como o colono branco e o trabalhador africano, o "maciço brasileiro", a bacia dos grandes rios da América do Sul, a maior porção desta.

As distinções entre os homens na colônia foram simples. Brancos e negros. Livres e escravos. Paulistas e "emboabas". O conflito destes simboliza a luta, pela apropriação do "dourado" interior, entre o "brasileiro" plasmado pelo bravio isolamento do altiplano, atrás da serra marítima, e o ádvena que descobriu, com a navegação

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