qual o centro do interesse estava localizado na assimilação do africano ao Novo Mundo, ou, mais particularmente, nos produtos desses processos sobre diversos setores da vida brasileira: religião, língua, culinária, vestuário, música. O negro brasileiro, ou melhor, o brasileiro negro e o processo de sua integração nos quadros da sociedade brasileira - da condição de escravo à de proletário e da condição de proletário à de negro de classe média, jamais despertou o interesse sério dos estudiosos do negro no Brasil, porque um arraigado estereótipo os convencera de que nada havia a estudar em relação ao negro igual a nós, ao negro não-africano, não-analfabeto, não-escravo, não-trabalhador rural, não separado do branco pela distância imensa que separa o vértice da base de uma pirâmide social rigidamente estratificada. O que o negro tinha de diferente de nós era o que se oferecia ao estudo: suas matrizes africanas, o drama de sua vinda para o Novo Mundo, sua condição de escravo, o estoque de influência que ele trouxe para cá e despejou fartamente na argamassa com que a história cimentou o chão e as vigas mestras da civilização brasileira.
Não se pode separar as orientações dessa fase e esse tipo de estudos sobre o negro no Brasil da atitude mental que ela reflete e que, por sua vez, é produto direto do quadro tradicional das relações de raças no Brasil. As distâncias que socialmente separavam os grupos étnicos no espaço formado pelas relações que entre si mantinham - e foi nessa posição que intervieram na formação da sociedade brasileira - agiram, diretamente, no sentido de configurar não só o quadra geral dos contactos e relações raciais mas também, inclusive, condicionaram um modo característico de colocar e estudar a questão racial no Brasil.